estamos na iminência de outro golpe, com a paralisação de caminhoneiros sendo cooptada por incentivadores de intervenção militar, de forma similar com que os protestos contra aumento de ônibus em 2013 foram dominados por movimentos “apolíticos” que injetaram as piores ideias na massa crítica que se formava, ajudando a situação a chegar onde nos encontramos hoje.
os últimos dias têm sido estranhos em São Paulo, com menos carros circulando, caminhões levando combustível comprado pela prefeitura sendo escoltados, itens começando a faltar em alguns mercados, serviços na iminência de não poderem funcionar a partir desta semana [incluindo a coleta de lixo e o funerário].
alguns poucos assentos vazios no teatro do Sesc Belenzinho mostravam que algumas pessoas não conseguiram ir ao show da banda paulistana In Venus, como haviam comentado na página do evento.
a inquietude estava nas poetas que se apresentaram em três momentos, falando sobre questões femininas contundentes na República de Temer – o Judas da Ponte Para o Futuro do Pretérito – e na banda tocando suas músicas de referência pós-punk oitentista irritado e entristecido em um momento que estamos tão perto dos anos 80 dos preços remarcados mais de um vez ao longo do mesmo dia.
ao fundo no telão imagens editadas por Marianne Crestani sobre a Natureza em Preto e Branco, e da floresta de pedra com pessoas em seu habitat vivendo um sistema que em nada parece natural. e frases quebradas com efeitos de glitch sobre as situações agudas da metrópole, de pessoas vivendo em prédios que podem ruir e virar personagens de pornografia televisiva que faz assessoria de imprensa dos palácios.
e também imagens da maré, em constante refluxo [que também é o nome do single / EP que a banda está lançando], indo e vindo como os movimentos naturais que se espera sejam espelhados na volta de tempos melhores – mas que também remetem à condição que faz o suco gástrico voltar pelo esôfago, de raiva e nervoso e desgraçamento mental pelo qual todos têm que passar em tempos de incerteza forte que só trazem à tona a imposição dos homens sobre as vontades femininas. sobre as necessidades dos pobres, sobre a vida de todas. na sexta-feira conversei com um psicólogo que me havia dito nunca ter atendido a tantos pacientes instáveis como nos últimos tempos, a ponto de o tratamento servir hoje como contenção de danos piores.
e é se enxergando como partes uma das outras como talvez se possa encontrar o acolhimento e a força para se enfrentar este e outros sábados estranhos do nosso cotidiano em ruínas, se desfazendo pelo tempo, com o qual nos acostumamos e pro qual nos anestesiamos.
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