Ontem à tarde peguei um táxi com minha esposa. O motorista de compleição serena, com um sotaque meio aportuguesado. Evito ao máximo puxar conversa nessas situações pra não cair no bingo reaça clichê do metier. Fiquei curioso pelo sotaque e Perguntei de onde ele era – Pernambuco, mas havia morado por muitos anos em Lisboa. Estava aposentado depois de trabalhar por quase 30 anos e 26 países como mecânico de avião e táxi aéreo (na área de jatos particulares). Hoje não voltaria pra Portugal, mas moraria no Canadá se tivesse que sair do Brasil.
Não me segurei e disse se podia fazer uma pergunta; o taxista soltou que até já sabia o que viria. A queda do avião do juiz do STF teria sido acidente ou sabotagem? Pra ele, uma clara sabotagem – ambos avião e piloto teriam condições de fazer um pouso decente nas condições apresentadas.
À noite fomos de metrô assistir a um show no SESC Pinheiros e topamos com a xepa do Carnaval ao pisar no chão grudento de cerveja seca na estação Faria Lima apinhada de adolescentes acabados. Saindo da estação, praticamente um pós-guerra hormonal.
O Largo da Batata, cercado por tapumes de metal, praticamente transformado em um pinico gigante. narinas queimando com o odor de urina por toda parte (da escadaria da estação até os limites do Largo em si), homens apavorando mulheres, seguranças da Linha Amarela do metrô aumentando barreira de metal pra tentar garantir o patrimônio privado da empresa que a administra. O “lixo vivo” da citação do novo alcaide-showman de São Paulo estava ali, pulsando álcool pelas veias.
Dias antes, havia denuncido a um paredão de policiais militares na República um sujeito que, como homem das cavernas, agarrava mulheres com as mãos, impedindo que andassem e forçando beijos violentos. Coisas do Carnaval, qualquer um dizia… ou assédio. O PM que ouviu minha conversa disse que ia comunicar ao comando, e continuou de braços pra trás. É assim que se proibirá eventualmente boa parte dos blocos, cuja existência e ocupação das ruas se tornou uma declaração política em si: deixa queimar, pra depois se justificar a reação truculenta.